27.3.10

Clareza Metafórica

(Texto iniciado a dia 18 deste mês. Fui acrescentando e moldando ideias á medida que a passagem dos dias me ia proporcionando várias experiências)

Dois lenços atirados para o chão, permaneciam inanimados. Confinados ao espaço que lhes foi reservado. Fitou-os contemplativamente na manhã seguinte. De fresca memória, observou a sombra húmida por entre as dobras de papel amarrotado, que mais ninguém conseguiu ver. Uma sombra tingida de breu arrependimento e melancolia. Não deixou ninguém ver. A escuridão escondeu e abafou. Pegou neles e plantou-os na terra com muito cuidado, num sulco abrigado por outras árvores que assistiam, serenas. Mas não os tapou totalmente. Deixou um espaço aberto, onde só germinará a semente aguardada. A água está lá, estagnada. Parada no tempo. Falta a semente. A semente que fará crescer uma árvore. Uma grande e bela sequóia, de preferência. Contudo a direcção de uma brisa incerta, que a cada dia que passa parece trautear mais perceptivelmente por entre a floresta, em tom de aviso "Now that you find it it's gone... Now that you feel it, you don't" ditará o futuro.

E depois o silêncio que nada traz, a não ser desespero. Um silêncio que sem nada dizer, diz.
Um feixe de luz desce de súbito sobre uma roseira branca, plantada ali há já uns três anos em celebração de uma amizade. Agarremo-nos então a esta planta com as duas mãos, bem apertadas, e não a deixemos voar com vento. Agarremo-nos ao que nos resta, e não a deixemos definhar. As mãos sangram agora com os espinhos, mas quando tudo acalmar seremos banhados com a bonança do sarar.

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