16.4.10

O Sem-Abrigo

Olhos fixos. Entreabertos. Perdidos em pensamento e falta de esperança. Esse pensamento que trespassa qualquer barreira. No chão estás sentado, enquanto cadeiras no café arrefecem a teu lado. A familiaridade da cena dá-se em jeito de reflexo condicionado, instantâneo e naturalmente incontrolável. Um sentimento que em vez de me perfurar, pára a meio, enquanto me espelho nos seus olhos que não me olham. Vou pedir permissão para me sentar a teu lado, olhar-me-ás nos olhos e ver-te-ás brilhando neles também. Acenarás afirmativamente com a cabeça sem nada pronunciares. Ficaremos assim, despojados de tudo. Ver o tempo passar e sentir compreensão no silêncio um do outro. Encontrar-nos-emos por essas ruas amarguradas e seremos duas pedras da mesma calçada. Pode ser que um dia te diga ou arranque uma ou duas palavras, talvez não. O silêncio é assim, muitas vezes encantador. Muitas vezes desesperante. O silêncio que une por compreensão ou separa por incompreensão. Um do outro só sabemos o que mostramos, ou seja, nada. E no nada pegaremos e faremos ponto de união. Um pacto. No silêncio nos conheceremos e em segurança recolheremos. É este o encanto do desconhecimento, que permite que se viva em constante sonho de algo que não acontece. Do que é pensado mas não dito. Queres arriscar quebrar o silêncio? Desde quando tem de ser castigo?


E pensar que só te vi por dois segundos.

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