21.6.10

Correntes da auto-estigmatização

Tenho no meu corpo o mapa das guerras que travei e o prenúncio das que se sucederão. Cicatrizes das lutas que escolhi antes sequer de nascer. Ganhei a guerra física, mas não a batalha psicológica. Embora na minha cabeça não tenha ganho nenhuma. Olho o espelho todos os dias na esperança de ter nascido com o corpo que quero. Não seria o corpo certo, isso eu sei. Este corpo é meu, logo é o certo. É tempo de ter o que preciso, não o que quero. A linha que divide as duas é confusa. Estou a divagar. Não aceito o estado das coisas e diga-se que noutras condições isto seria um ponto positivo, porém neste caso não o é. Divido-me entre o desejo da derrota/vitória por aceitação ou de luta por inconformismo. Enquanto não me decido, permaneço inerte e inconsolável. Pior do que isso... escondo essas minhas guerras e não as deixo ver luz. Meto-lhes uma máscara e iludo os outros da minha dor, essa, que camuflo por vezes entre risos forçados na festa da vida. Todos o fazem de vez a vez. Vou acumulando dores invisíveis numa camada que quero agora atingir fisicamente. Aguardo sem esperança que a cura do físico resolva o psicológico. Uma parvoíce pegada, deixem-me que vos diga. Sinto-me limitado pela percepção que julgo que outros terão de mim, como tal, criei estranhos mecanismos de defesa que em vez de ajudarem me deixam na merda. Aprisionado a algo que não me é suficiente. É tempo de quebrar as correntes, afinal é com a minha sanidade mental que estou a jogar.

(suspiro profundamente, tentando perceber porque razão alguns dos textos que escrevo para me libertar me soam por vezes a auto-comiseração)

Sem comentários: