8.9.10

Ensaio sobre um suicidário #1

Não que não tivesse pensado já nas consequências do seu acto. A família, os amigos, as oportunidades futuras, foram também revistos, mas em estado febril. Porém este último ponto esteve até então muito enublado. O futuro não era propriamente tema de pensamento. Ou se o era, não se afigurava promissor. Confrontado com a decisão do salto para o alcatrão a vinte metros de altura, petrificou na imagem mental das suas vísceras no exterior do corpo, o crânio rachado e o sangue fluindo na mesma inclinação que a rua, segundos após o embate, abrindo caminho por entre as fissuras das pedras da calçada, agora tingidas de um vermelho pastoso e característico. Pedra por pedra, como um tapete. A falta de espontaneidade que outrora o atraiçoara, acabou por ser a sua salvação.

Não só, mas também.

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