14.2.11

O culto da fuga #1

Tudo o que preciso é do vazio da natureza que me encha de plenitude. O nada que se transforma em tudo. Um vazio tão grande, que seja capaz de sarar feridas apenas por compreensão. Reconheça eu o silêncio, e bastar-me-á isso simplesmente, mais do que mil palavras na busca pela definição apurada. Até lá, o meu objetivo é caminhar-me, na tentativa de satisfazer por uma vez na minha vida uma vontade ancestral. Eis como traço o meu destino de momento. Eis o imperativo da minha mente. Aventurem-se nos perigos da introspeção e digam-me o que vos acompanha, o que vos acompanhou até ao momento. A mim, acompanha-me o cansaço da insatisfação, e a realização de que a fuga é a busca obsessiva pela cura. Consigo até jurar a pés juntos, que parte deste sentimento nunca me abandonará, e que precisarei de tempos a tempos, de um sítio calmo e solitário onde possa ressacar das overdoses que vou colecionando diariamente. A luta é por não deixar que o hábito de abdicar do sonho talhe a minha alma no conformismo. Na tristeza, que de tão longa, ganha características anestésicas, onde o ser e o estar se confundem perigosamente numa linha, já por si, ténue.

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