17.4.11

Melro

Seis da manhã e escorrega aos meus ouvidos o canto solitário de um melro que, desde que o tempo se aprontou a amenizar, me acorda bem mais cedo de um sono ainda por dormir. Madrugadores penados que insistem nesta ordem primeira, ainda (res)soando natural, apesar do betão.

Dou voltas ao quarto em círculos de embalar ideias tristes que acalentem o sono que nunca encontro. O verbo adormecer que já não sei praticar.
Aceleram-se os passos. Acelera-se o coração. Aceleram-se as ideias em demente repetição.

E nisto... sinto à distância o conforto de uma ideia semelhante trazida pela melodia frenética na alvorada, acompanhando a loucura, reconhecendo-a em mim, porque a sabe em si. A cada passo. A cada voo. Sabendo que nos sabemos, dormimos e acordamos.

4 comentários:

murmuria disse...

Também tenho um melro penado desses que me segue para onde quer que eu vá -- piando-me todas as manhãs que já é de dia e que não vou ter tempo sequer de adormecer -- nunca pensei vir a temer o canto de um pássaro como o melro, mas assim é já há uns anos.

André C. disse...

Entendo-te. O canto do merlo ora me faz desesperar (por isso que referiste muito bem), ora me faz acalmar, sendo uma companhia que muito aprecio. É um misto.

Olha, começou a cantar agora outra vez. Vou abrir a janela para ouvir melhor.

murmuria disse...

Sim, só o temo de madrugada. Sou uma autêntica serva da Natureza -- quando não a temo, amo-a :)

André C. disse...

:)