16.7.11

O culto da fuga #29

Ao contrário do dia que se inicia fazendo frente a um raiar australiano, a noite é parca em sons. Confesso-me surpreendido por isso. Às vezes meto-me à escuta, de ouvido apontado em esperanças à floresta de eucaliptos lá em cima, mas nada. Nem um mocho ou uma coruja-do-mato para continuar as melodias suspensas dos seus comparsas diurnos. Choram gatos à minha porta e ouvem-se lamúrias latidas à distância, mas só o pulsar das minhas têmporas demarca o ritmo nocturno, enquanto cigarras cantam o bom tempo nos intervalos da vida. Então, abro a janela, e uma lua tão cheia faz parecer a noite uma mentira, um fim de tarde prolongado até à infinitude de um novo dia. Fico a olhar.

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