24.2.10

Welcome

Fechou os olhos, como tantas outras noites. Tem sonhado todos os dias. Facto curioso, acha que só sonha nos momentos que antecedem o final do sono. Como se fosse necessário lembrar-se deles por alguma razão que não desconhece totalmente. Que não os olvide. Mas se tal acontecer, natural será. Afinal como podem as nossas almas, livres como pássaros para vaguear por outros mundos, se lembrarem das mesmas belas sensações quando á gaiola da vida grosseiramente terrestre regressam?

Um sonho.
Embora lhe pareça que vê com os olhos que todos os dias fitam este mundo, o que na realidade vê é a sua alma.

Dois prédios perfeitamente alinhados na sua óptica, recortam um céu de que não se recorda. Dois prédios que se dividem em duas simples tonalidades, um de um lado, outro do outro. Dois, três andares? Talvez.

Um fotógrafo.
A passos largos caminha entre cenas supostamente contínuas.
Passa rente á parede do edifício direito.
Um caixote já de longe se deixava avistar.

Uma descoberta. Macabra por sinal.
Uma poça de sangue. Recente? Não sabe.
O sangue pertence a uma mulher, apesar de nenhum cadáver se observar.

"Homicídio" surge a palavra na sua mente.
Foi isso.
Uma mulher assassinada junto ao cais de um local que lhe é desconhecido.

Acorda. "Acorda?"
Acorda rápido e prontamente, mas ainda assim, conserva a calma. Mantém-se na mesma posição em que despertou.

Transmissão de pensamento. Está receptivo à comunicação e faz questão de frisar isso mentalmente. Que se comunique com ele a mulher que sentiu no sonho. Foi movido a um sentimento quase carinhoso. Talvez ela tivesse muito que dizer. Talvez muito tivesse ficado por dizer. Acto contínuo. Concentração total na sensação seguinte. Ausência de peso seguida de compressão contra o colchão da cama. Não mexeu um músculo, apenas arregalou os olhos depois de lhe parecer ouvir um sussurro que não entendeu. Fez a analogia com uma sensação de infância, uma sensação de pânico incoerente. Quem sabe, a mesma vivida pela mulher naquele momento fatídico.

Olha para o relógio e vê marcadas quatro da manhã.
Questiona-se como será possível estar tão desperto àquelas horas.
Retoma a calma inicial.

Um leve arrepio é sentido nos pés e por tentativas entranha-se e sobe pelo seu corpo. Semelhante à sensação de quando uma música verdadeiramente nos toca. Um arrepio percorre-nos de alto a baixo.

Bloqueio mental. Cessar progressivo.
Pode retomar o sono.

(Este post nada tem que ver com os anteriores: "Incertezas de uma Nuvem", "Under Your Spell" e "Post Scriptum". Para que fique claro, são assuntos bem diferentes)

1 comentário:

Cat disse...

MUITO abstracto mas extremamente descritivo. ainda vou ler outra vez, gostei bolas!