27.6.10

Um dia decidiram fazê-lo ao ar livre e nunca mais voltaram

Na casa reinava um ambiente peculiar. O silêncio... deixou de existir. A quebrá-lo, gemidos formavam um vibrato cacofónico que ecoava por todas as divisões da casa. Não só da sua, mas a dos outros também. Invadia cada canto da rua e quem escutasse atentamente era capaz de ouvir. A sinfonia era espalhada livremente, sem acústica ou pauta. O jazz do prazer, a desordem organizada. Por muito que timidamente quisesse esconder os gemidos, a inevitabilidade de um ou outro falsete fazia-se ouvir incontrolavelmente. O seu único pedido era que não deixasse a música conhecer um final, “continua” ouvia-se-lhe a voz trémula por entre os lábios, cheios, voluptuosos e encarnados de paixão. Sem se queixar, deixava que as unhas da companheira fossem enterradas no seu couro capilar. Ele sentia a contracção muscular nas coxas dela. Sereno, continuou movendo a língua pelas rugosas estradas labiais da vagina até ao clítoris lá no alto. Sim, porque ela flutuava, parava inevitavelmente no tecto e ele acompanhava-a deliciado. Não houvesse tecto e flutuariam até ao céu. Daí que, por muito que quisessem, sexo ao livre estava fora de questão. Como seta de Cupido assim estava a sua língua fazendo mira à cona de Psique. Os gestos eram por pouco mecanizados, para serem seguidos de uma quebra no ritmo imposto. Foi numa dessas quebras que ela quebrou. Num êxtase epiléptico, toda e cada célula do seu corpo se contorcia sobre si, largando finalmente sobre ele o néctar frutificado, a liquida materialização do seu esforço. Sorveu parte das gotas, preciosas e quase translúcidas por ela vertidas. Olhos entreabertos ainda fitando o céu ascendido, o riso histérico e incontrolável morava agora nela. Frente a frente se viram sentados, olhando o despojamento total dos seus corpos desnudos. No peito dela, jazia um medalhão que nunca tirava. Para ele, aquele medalhão quase parecia ficar soterrado no meio das suas mamas, e por consequência fazia sobressai-las de modo encantador. Sorriram. Doces espasmos percorriam o corpo dela como soluços e este não dava mostras de querer partir para a ressaca do prazer. Ele deleitava-se contemplativo pelo que se deparava diante dos seus olhos, enquanto sentia o travo do interior da sua companheira ainda a vaguear nas papilas gustativas. Corações que não latejavam sozinhos. Beijaram-se, deram as mãos e tal como vieram ao mundo, fitaram-no da janela.

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