A incapacidade de manter uma dose de distanciamento, pode ser sem dúvida, fonte de tormento. Como um actor, que vendo o produto final em formato cinematográfico, não consegue assistir de forma "virgem" se assim o desejar. Tudo é relembrado se vivido. Mesmo que reprimido. Cada take. Cada dissabor ou alegria. Seja agora ou depois a memória aparece, mesmo que não nos lembremos dela como sendo o que é. Vem disfarçada de estranho reconhecimento. Um deja vu emocional, sei lá.
Ser um espectador (experiente?) permite ver as coisas como um todo, vendo apenas uma parte. O desconhecimento permite a visão alargada, longe de pormenores que compõem a história completa, mas que por vezes a obscurecem. Saber gerir e direccionar conhecimento adquirido é consequência do passar dos dias, dos anos. Conseguir separar o que se aprendeu da situação que o exige, é em alguns casos, uma virtude. Cada um carrega o passado às costas. Cabe-nos decidir se é um fardo pesado de suportar ou não. Sim, a sabedoria consegue ser uma cabrona, daquelas que não foi convidada nem bate à porta para perguntar se pode entrar, mas lamentar o aprendido é renunciar a importância da escola. A sabedoria não é inversamente proporcional à felicidade, a hipótese de deleite é vasta, mas é fundamental saber lidar com o saber.
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