20.4.11

Ensaio sobre um suicidário #3

Há que reflectir seriamente sobre isso do ponto de ruptura. A comparação de dores como argumento válido e capaz de dissuadir alguém de atentar contra a própria vida, causa-me de imediato a bipolaridade de emoções. É contraditória enquanto medida de apaziguamento de uma ideia suicida, tendo em conta o descrédito, irracional e subentendido, de alguém que apesar de bem intencionado, tem perante tamanha confissão. Sou tentado a dizer que, se a quantidade de vezes que esse raciocínio foi utilizado e conheceu resultados eficazes, tal não terá surtido efeito pelo encadeamento esperado com que foi revestido o pensamento de intuito consolador (e se o foi, terá sido apenas temporário, até a ideia surgir novamente), mas antes por qualquer outra derivação de lógica que no momento melhor assentou ao indivíduo que o escutou. Não querendo cair no erro de fazer transparecer ao leitor a ideia de estar a criar uma espécie de manual de abordagem ao suicida, ressalvo apenas na minha modesta opinião baseada na experiência que, sendo cada ser humano uma mente diferente feita de passados diferentes, não categorizar pontos de ruptura como aptos ou não à validade de acção por comparação de condições de vida, é talvez a primeira e mais idónea atitude a ter perante esse cenário.

3 comentários:

Carla Diacov disse...

muito bem dito.


beijos seguindo-te!

tgrg disse...

não conhecia esse trabalho dele em Lisboa, mas claro, está muito bom como todos os outros... obrigada pelo comentário, e já agora, gostei muito do blog e deste post! :)

André C. disse...

Carla Diacov, obrigado :)

Raquel Dias, é curioso porque no mesmo dia descobri através de uma amiga, esse link que te enviei com o trabalho dele pelo qual tantas vezes passei, interrogando-me sempre sobre quem seria o autor.
Pouco depois vou ao teu blog e deparo-me com outras obras e, finalmente, com o nome do artista. Ah, e obrigado :)