27.4.11

O culto da fuga #11

É notável o fenómeno da edificação da fuga: quer pela noção do irrealismo de ir ao encontro de uma fuga num local tragicamente distante e lá permanecer sem prazo delineado, quer pela impossibilidade de conceber sequer a existência de um lugar que se equipare à fuga imaginada, nasce assim a vontade de construi-la de raiz, de materializá-la numa existência reconfortante a que sempre se poderá lançar a mão;  depois, é o vício de mantê-la próxima o mais frequentemente possível, se concretizada, já que pode dar-se o caso de, apesar da relativa proximidade, esta se deixar sentir apenas na esporadicidade. Ainda que longe da vista, próxima do coração uma nova forma de a apreciar, que sempre se renova e reinventa no retorno, ou na memória até ao retorno.

4 comentários:

carina disse...

Vejo que não te esqueceste do caderninho e ainda bem :) mas e a tua fuga? Foi daquelas que, apesar de próximas, se sentem apenas esporadicamente?

André C. disse...

Sim, se considerar a distância como algo que me permite sentir a fuga quando estou lá ou me inibe de senti-la quando estou longe. Dito isto, estou contente por duas razões: primeiro, porque aprovei mentalmente o sítio onde estive como sendo capaz de satisfazer a minha necessidade de fugir (nesta matéria não é qualquer um que serve, não é verdade?) e segundo, porque existe. finalmente!

não estou a dizer que não tenho sentido a fuga noutros locais, (porque senti variadíssimas vezes, porém, por um tempo que não me saciou), estou é agradecido por poder estender essa sensação num desses sítios (mesmo que esteja a uns "quantos" quilómetros de onde vivo), e repousar calmamente sem estar a contar os segundos até à hora de partida.

André C. disse...

Embora a hora de partida, seja na mesma inevitável.

carina disse...

Que bom! :) E agora até fiquei um bocadinho invejosa. Se bem que para encontrar o meu sítio, tenho de perceber de que fujo. E, depois, também sei que, no meu caso, muitas vezes nem é só o local, é mais a predisposição da minha mente para a fuga.

Bom, também é verdade que nunca experimentei Ponte de Lima como deve ser... :P