Que será feito de Axel Andrée? Esse alemão que em abril de 2009 saiu a pé de Frankfurt carregando alguns pertences numa carroça que puxou por mais de dois mil quilómetros, até parar finalmente no Parque de Montesinho. Para além de dois minutos no noticiário e de um artigo no JN, nada mais se soube desde então.
Calculo que já terá cumprido os objectivos que traçou inicialmente: plantar uma horta, dominar melhor o português e construir uma casa de pedra. A que missões se dedica agora? Gostaria muito de poder visitá-lo um dia. Mostrar-lhe o quanto respeito a sua decisão de aos 43 anos ter largado tudo para fazer corresponder as acções aos seus pensamentos, e viver uma vida de total comunhão com a Natureza. Teríamos longas conversas onde se misturaria o meu português com o seu alemão (língua, que juntamente com o russo e o japonês, anseio por aprender). Mostrar-me-ia o quanto cresceram as árvores que plantou, e o meu olhar surpreso seria a sua recompensa. Talvez se predispusesse a ensinar-me uma ou outra técnica de cultivo, me ajudasse também a construir uma casa de pedra e me mostrasse quais as bagas e os frutos secos indicados para consumo. Seriamos vizinhos distantes, que isso do termo eremita não é utilizado despropositadamente. Mas há um ponto que eu gostaria de focar. Axel diz-se capaz de viver ali vinte, trinta anos, quem sabe até morrer.
Do pouco tempo que vivi algo parecido a uma vida eremítica, pude concluir que para que esse mesmo estilo de vida funcione e subsista (para mim, entenda-se), não me devo arraigar ao local ao ponto de nele me sentir novamente preso. Não quero gastá-lo. Isto significa que tão depressa como chego, assim me vou para outros ares. O que fará de mim um eremita errante. Mesmo que aceitasse o eremitismo como um modo de vida permanente, seria quase certo que me faltaria a vontade de permanecer por muito tempo no mesmo sítio. Axel, terá uma visão diferente, e ao ter encontrado ali a tranquilidade que há muito buscava, é perfeitamente natural que tenha adoptado aquele como o seu lar fixo. Eu deixaria por aí pedaços de terra imbuídos da dose certa de saudade para voltar, ou não, noutro dia. Veremos como me sentirei aos 43.
Embora não seja imune à vontade de querer encontrar um sítio a que chamar de meu, sei que não pertenço a lado algum, e lado algum me pertence. A vagabundagem está-me no sangue, e eu ainda não lhe fiz o mínimo uso. Acreditem no que vos digo.
Não posso viver confinado à repetição, nem ao desespero de não a ter nunca. O meio termo será tentar retirar conforto da rotina, sem deixar que a vida passe fome de novidade.
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